sexta-feira, 26 de julho de 2013

Não queria ser forte. Queria ser pai.

Faz hoje um mês. O dia mais terrível da minha vida. O dia em que tive de assistir ao vivo ao último suspiro da minha princesa enquanto a mãe, desesperada, procurava garantir que aquela linha contínua no monitor não era apenas um mau contacto no sensor de frequência cardíaca. Foi o dia mais incrível, mais aterrador e ao mesmo tempo mais iluminado. Sentir a Nô ascender ao céu, largar aquele corpo que enclausurava uma alma grandiosa. Do tamanho do Mundo. Do Universo.
Não é algo que deseje ao meu pior inimigo (tenho disso?) e no entanto sinto-me um privilegiado. Não consigo explicar por palavras algo deste tipo sem correr o risco de ser mal interpretado.
Faz hoje um mês do meu Tudo e Nada, Alpha e Omega, Yin e Yang.
Foi a pior coisa que me aconteceu e no entanto mudou tanta coisa em mim para melhor que foi também, ao mesmo tempo, a melhor coisa que me aconteceu.

Enquanto escrevo isto passo de um estado de vazio para cheio. Vazio como se me tivessem arrancado tudo dentro de mim. Como se a minha alma saísse deste corpo e vagueasse por aí sem rumo à procura da minha filha. Como se a minha filha estivesse algures perdida nesse Mundo e eu soubesse que, se a encontrasse, poderia voltar a falar-lhe. A tocar-lhe. A dar o colo que nunca dei. O embalo que nunca embalei. O beijo que nunca beijei. E esperar que nessa altura me olhasse com esse mesmo ar ternurento que sempre me dedicou. Ou pareceu dedicar. Aquele olhar que eu sinto tocar-me quando fecho os olhos.

E aí percebo…

A Nô não está “por aí”. A Nô está dentro de mim.
E nessa altura compreendo que me afastar do meu corpo, da minha alma, é afastar-me dela.

Sangue do meu sangue, alma da minha alma.

E depois sinto-me completo. Cheio. A transbordar. De amor. Este meu corpo é pequeno para albergar uma alma do tamanho da Leonor. Por isso ela se divide e enche o corpo da mãe. Dos avós. Dos tios e primos. Dos amigos.

Hoje é um dia especial. Hoje sou tu, Nô. E tu és eu.

Sangue do meu sangue. Alma da minha alma.



Descansa em paz, minha princesa.
AF

PS: como há um mês atrás pedi a quem me leu que abraçasse os seus filhos com o maior amor do mundo, hoje peço o mesmo. Façam isso, não por mim, não pela Nô. Façam-no por vocês. Pelo Mundo inteiro que evolui um bocadinho quando estes gestos se repetem. Obrigado meus amigos.

1 comentário:

  1. É uma dor imensa imaginar o que passaram. A Leonor tão linda e a transparecer no seu olhar puro muita vontade de viver apesar do seu corpinho frágil. Ninguém com coração de pai e mãe pode ficar indiferente a esse anjo de alma grandiosa. Como disse noutro texto, a Leonor está longe do sofrimento e de pessoas más. Certamente que ela marcará a vossa vida para sempre e a sua existência já tocou muitas outras vidas. Tocou a minha que procurarei ajudar de alguma forma outros anjos indefesos deste mundo... Acredito que a felicidade de um pai que abraça o seu filho com o maior amor do mundo será um dia vossa também. A Leonor estará nos meus pensamentos e orações. Não será esquecida...

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